Muitas vezes em que nos aproximamos da Semana Santa vem em nossas mentes e em nossos próprios corações: análises, interrogações, reflexões, sobre esse momento religioso que estamos a começar.
Vemos nas manchetes dos jornais notícias
das desvalorizações e banalizações que fazem ou se propõem a fazer durante a “semana
maior” como ficou conhecida através de nossos precursores familiares.
De fato, seguir Jesus não é fácil. Nos
aprisionamos as coisas da Terra e as futilidades que o mundo oferece. “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a
sua cruz e siga-me“ (Mt 16,21-27).
Por volta de 2015, em seu Múnus de Liturgia:
Viver a Semana Santa, fazia-nos refletir:
“
Para muitos, um feriado; para outros, uma devoção; para o comércio,
oportunidade fantástica de vendas; para outros ainda, um momento especial de
meditação, oração e renovação da fé. E para você, o que significa “viver
a semana santa”?
Existe um jeito, um lugar, um momento muito especial no qual
aprenderemos a “viver a semana santa”. É o que nos aponta o saudoso Papa Paulo
VI: “Se há uma liturgia que deveria encontrar-nos todos juntos, atentos,
solícitos e unidos para uma participação plena, digna, piedosa e amorosa, esta
é a liturgia da grande semana. Por um motivo claro e profundo: o Mistério
Pascal, que encontra na Semana Santa a sua mais alta e comovida celebração, não
é simplesmente um momento do Ano Litúrgico: ele é a fonte de todas as outras
celebrações do próprio Ano Litúrgico, porque todas se referem ao mistério da
nossa redenção, isto é, ao Mistério Pascal”.
Eis o sentido do que significa “viver a semana santa”: fazer
memória do mistério do amor de Deus que se manifestou na entrega confiante de
Jesus ao Pai, até a morte na cruz, por fidelidade à sua missão. Mais
ainda, significa celebrar o mistério do amor de Deus que sustentou Jesus em seu
calvário e o ressuscitou, o glorificou, o fez sentar-se à sua direita,
constituindo-o Cristo, Messias e Senhor.
“Viver a semana santa” significa fazermos memória destas ações
maravilhosas de Deus. Mais, saber que estamos “revivendo” todos estes fatos.
“De geração em geração, cada um de nós é obrigado a ver-se a si próprio, com os
olhos penetrantes da fé, como tendo ele mesmo estado lá no Calvário, na
primeira sexta-feira santa, e diante do sepulcro vazio, na manhã da
ressurreição. Hoje, todos nós, aqui reunidos para celebrar a eucaristia,
estávamos lá, prontos a morrer na morte de Cristo e a ressuscitar em sua
ressurreição. Será exatamente nossa comunhão com o corpo sacramental do
verdadeiro Cordeiro que nos tornará realmente presentes àquele eterno presente”
(Césare Giraudo, Redescobrindo a Eucaristia. São Paulo, Loyola, 2002, p. 83).
Concluo com uma parte da homilia de S. Gregório de Nazianzeno, bispo do
séc. IV, que certamente também nos dá uma dica de como “viver a semana santa”:
“Se és Simão Cireneu, toma a cruz e segue a Cristo. Se, qual o ladrão, estás
crucificado com Cristo, como homem íntegro, reconhece a Deus. Adora aquele que
foi crucificado por tua causa. Se és José de Arimatéia, pede o corpo a quem o
mandou crucificar; e assim será tua a vítima que expiou o pecado do mundo. Se
és Nicodemos, aquele adorador noturno de Deus, unge-o com perfumes para a sua
sepultura. Se és Maria, ou a outra Maria, ou Salomé, ou Joana, derrama tuas
lágrimas por ele. Levanta-te de manhã cedo, procura ser o primeiro a ver a
pedra do túmulo afastada, e a encontrar talvez os anjos, ou melhor ainda, o
próprio Jesus” (Liturgia das Horas, vol. II, p. 352).
Aí sim, poderemos exclamar: “FELIZ
PÁSCOA!”
UMA ABENÇOADA SEMANA SANTA!