Nós,
cerca de 7 mil romeiros e romeiras da Missão da Terra, do campo e das cidades,
da Diocese de Bonfim, Bahia, estivemos reunidos/as no distrito de Igara, município de Senhor do
Bonfim, para celebrar a 38ª Missão da Terra, um ato de fé e mobilização popular
que acontece todos os anos, com o objetivo de animar a caminhada do povo de
Deus, denunciar as injustiças sociais e ambientais e anunciar o “Bem Viver” no Sertão.
Este
ano com o tema “Vida e Morte na Caatinga:
enquanto o Ser Humano destrói, Deus Ressuscita”, e o lema “Cultivar e Guardar a Criação é nossa
responsabilidade!”(Gn 2,15), a Missão da Terra, convoca a
sociedade em geral para promover uma ação coletiva em defesa da caatinga, do
seu povo, de suas águas e de toda a sua biodiversidade.
Sabendo que 80% da área
do bioma Caatinga está no Nordeste, com aproximadamente 844 mil quilômetros
quadrados e que apenas 1% do bioma está protegido por leis que tem sido
flexibilizadas a fim de favorecer interesses privados, denunciamos
a degradação, causada por empresas mineradoras, agrohidronegócio, parques
eólicos e outras ações inconscientes ou gananciosas até de pequenos
agricultores.
Denunciamos
também o desmatamento, a falta de saneamento básico, a elevada produção de
lixo, o uso de agrotóxicos, as recorrentes queimadas nas serras, a destruição dos
rios e nascentes, principalmente na Serra da Jacobina - Caixa D’água do rio Itapicuru,
que abastece todos os municípios do território da Diocese de Bonfim. Como gesto
concreto, a paróquia de Santo Antonio de Igara plantou 16 arvoes nativas no
leito do rio Itapicuru que banha o distrito de Igara.
É visível
que a intervenção humana tem desequilibrado a harmonia da natureza e a maldita
ambição por acumulação de riquezas faz muitas pessoas esquecerem-se de Deus e
utilizarem-se da violência como prática cotidiana.
Bradamos
contra a ganância do Capital, que expropria os territórios camponeses e explora
os/as trabalhadores/as. Denunciamos a violência que vitimiza principalmente
jovens negros, pobres e das periferias das cidades, somados aos
trabalhadores/as assassinados no campo, sendo que este ano já são 63,
ultrapassando o índice de 2016. Ecoa um grito por justiça a todos os mártires
da terra, especialmente Leonardo de Jesus Leite (2010) João Pereira (2016), e José
Raimundo Mota Junho (13 de julho de 2017) ceifados pela ganância do latifúndio.
Frente a toda
essa situação de morte, a 38ª Missão da Terra anuncia sinais de esperança que
geram vida na caatinga, a exemplo dos modos de vida das comunidades
tradicionais, da agroecologia, da cultura popular, da economia popular e solidária,
dos mutirões e as ações individuais e comunitárias de cuidado com a casa comum.
Sintonizados/as
com o Evangelho de Jesus de Nazaré somos chamados/as a lutar contra os projetos
que geram a morte e reafirmamos os projetos que garantem vida digna para todas
as espécies criadas por Deus com amor.
Com os
corações alegres e cheios de gratidão, pela acolhida e hospitalidade do povo de
Igara, retornamos para nossas casas comprometidos/as com a ecologia integral,
tendo em vistas as presentes e futuras gerações e a responsabilidade de cada
um/a em cultivar e cuidar da criação, especialmente do nosso bioma caatinga que
geme em dores de parto.
Que as
bênçãos do Deus da Vida, a misericórdia do Senhor do Bonfim e a proteção de Nossa
Senhora e de Santo Antônio de Igara, continue a nos impulsionar e proteger para
vencer os projetos de morte e gerar vida em nossa caatinga .
OS/AS
PARTICIPANTES DA 38ª MISSÃO DA TERRA – DIOCESE DE BONFIM.
IGARA,
SENHOR DO BONFIM, BA 17 DE SETEMBRO DE 2017.